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Posts Tagged ‘Revista de Literatura e Arte’

SUROESTE

Na continuidade da exposição Suroeste, realizada no MEIAC (Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporaneo) entre Março e Abril de 2010, tendo decorrido em Badajoz sobre o mote de Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), tem vindo a marcar presença, sob a direcção de Antonio Sáez Delgado, esta revista  assumindo o mesmo nome do evento que lhe deu origem.

Contendo uma estrutura em redor de três secções temáticas, são várias as línguas ibéricas que aqui se exprimem para um aprofundamento, e maior conhecimento, da dinâmica actual de uma cultura transfronteiriça de realidades, senão comuns pelo menos partilhadas. Neste número 12, na secção de Ensaio, é publicado «A Arte de Escutar» de Diniz Conefrey, que teve a sua primeira edição neste blog. Maria João Worm participa na secção de Poesia com o poema «Roupa em Segunda Mão».

Muitos são os colaboradores que, ao longo de 168 páginas (e duas separatas) dão voz a esta publicação onde também se encontra patente uma secção de Narrativa. A edição pertence à Junta de Extremadura e à Fundación Godofredo Ortega Muñoz, onde estão disponíveis no site, para consulta digital, os números publicados anteriormente:

https://ortegamunoz.com/suroeste/

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Começamos aqui a transcrever um texto, dividido em três partes, publicado na revista el poeta y su trabajo (Inverno de 2009) da autoria de Olvido García Valdés. Poeta, ensaísta e tradutora espanhola que nasceu em Santianes de Pravia (Asturias) em 1950. Coeditora da revista poética Los Infolios foi fundadora e membro do conselho editorial de El signo del gorrión. Entre vários dos seus livros poderíamos mencionar La poesía, ese cuerpo estraño (2005) e Y todos estában vivos (2006).

Escrever notas de poética apenas serve para assinalar em que direcção olhamos quando se fala de poesia. Não remete, pois, aos próprios textos – que, além do mais, em parte desconhecemos por excesso de proximidade –, apenas se pretende discernir nessas palavras que nos tenham assombrado ou comovido e que, em prosa ou em verso, chamamos poemas (assim, por exemplo, parecem-me poemas muitas das anotações do Diário de Katerine Mansfield, em especial as que correspondem ao último ano, 1922. São as necessidades dessa escrita e uma rara transparência que dão aos textos uma natureza cristalina e acutilante, onde apenas se chega por despojamento, por se ter de olhar cara a cara os dias que passaram; disfrutados, saboreados sabendo que esse pássaro, essa taça de chá, essa luz, deslizam para o derradeiro. Pois, quem sabe, distingue o poema uma certa atitude na escrita, talvez tenha menos que ver com o verso ou com o ritmo e imagens mas com uma certa atitude no que diz respeito à escrita que o origina; e ao efeito dessa atitude poderia chamar-se tom).

O poema é sempre retrospectivo, mas a dilatação lírica adere à respiração; o pensamento do poema não procede por análise mas por condensação, condensando-se em associações, em ritmos e montagem. Trata-se de um pensamento perceptivo, intuitivo e lacónico, sensorial. (…) A visão que cada poeta tem do mundo toma como base pulsões da infância; as imagens ou motivos que essas pulsões vão ocupando variam com o tempo; o ritmo dessa variação assemelha-se a uma espiral. A arte sabe tudo sobre o corpo do artista, por isso alguns poemas dizem coisas que talvez quem os escreveu não sabia.

O poema, como a paisagem, é um lugar onde nos é permitido falar com os mortos; também aí nos é permitido sentir a dor. Ambos se enredam de duração, o tempo ensimesmado na contemplação da coisa perdida. (…) (No que consiste à emoção, mostra-nos, por vezes, a falta de emoção. Quando ao ouvir ou ler uma frase sentimos que lhe falta emoção, percebemos que essa ausência tem que ver com algo relacionado com o tempo; a falta de emoção segue entrelaçada com alguma falha, ou claridade excessiva, no sentimento do tempo; como se a morte não tivesse impresso a sua marca).

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«Onde estará agora Tony Goodwin? A sua morte afirma que nunca mais poderá ter a presença em qualquer lugar: que cessou de existir. E, fisicamente, é verdade. Há duas semanas queimávamos folhas secas no pomar. Agora caminho sobre as cinzas quando vou até à aldeia. Cinzas são cinzas. A vida de Tony pertence historicamente ao passado. Fisicamente, o seu corpo, simplificado e reduzido ao carbono pelo fogo, reentra no processo físico do mundo. O carbono é pré-requisito de qualquer forma de vida, a fonte do orgânico. Digo a mim mesmo estas coisas, não para elaborar uma capciosa alquimia da imortalidade mas para não me esquecer de que é a minha concepção do tempo que está a ser interrogada impiedosamente pela morte. Não vale a pena usar a morte para simplificar as nossas vidas. Tony já não está dentro do nexo do tempo tal como é vivido pelos que, até há pouco tempo, eram seus contemporâneos. Mas estará sobre a circunferência desse nexo (circunferência de um círculo, não de uma esfera), tal como os diamantes e as amibas. E todavia também está do lado de dentro, como todos os mortos. Numa condição que é a de tudo-o-que-os-vivos-não-são. Os mortos são a imaginação dos vivos. E para os mortos, ao contrário dos vivos, a circunferência da esfera não constitui fronteira nem obstáculo.»

Do livro de John Berger E os nossos rostos, meu amor, fugazes como fotografias. Tradução de Helder Moura Pereira. Revista «Construções Portuárias», Maio de 2002.

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Céu do Norte. Fotografia sobre papel. Estocolmo 2000.

Céu do Norte. Estocolmo, 2000.

O Reflexo da Lua surgiu quando em finais de 1999 a editora francesa L’Associassion lançou a proposta de um livro de banda desenhada internacional, sobre o inicio do novo século. A minha proposta narrativa  passava por um conceito em que o objecto e o seu reflexo não exprimem, necessariamente, a “realidade”. Partindo desse ponto, a sequência desenvolve-se assente na dicotomia de opostos e complementares, dentro de um registo onírico da passagem do tempo “histórico” e “individual”; os caminhos de um século passado e a entrada de um novo… Sem querer alongar-me nos conteúdos narrativos, esta sequência acabou por ver recusada a sua publicação no Comix 2000 e esteve, depois, para sair na revista Selecções da BD, numa versão com texto. Entretanto a Meribérica faliu e O Reflexo da Lua esperou mais sete anos, até ver a sua publicação na revista mexicana, de literatura e arte,  Textofilia. A rubrica Ponto de Fuga, do numero 14 desta publicação, apresenta dois textos introduzindo este trabalho. A seguir, apresento um deles que decidi manter na sua língua original; já que é inteiramente perceptível para o leitor português.

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Esta sequência narrativa teve também a sua publicação, em Portugal, na revista Venham + 5, nº5, de Maio de 2008. Sendo uma edição da Bedeteca de Beja. Este numero saiu durante o Festival organizado por este organismo, no qual participei com uma exposição patente no Conservatório Regional do Baixo Alentejo. Neste local estiveram presentes, também, originais desta banda desenhada. A inclusão de O Reflexo da Lua no site Quarto de Jade, deve-se sobretudo ao facto de mostrar a sequência na sua disposição original, algo que não aconteceu na revista Textofilia.

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