De volta a 1987 eu ainda não tinha a noção técnica e gráfica das contingências do trabalho de reprodução, em offset e muito menos uma experiência, como a digital, que põe em prova a eficácia da mancha em relação aos detalhes. Nesse tempo, o meio acessível de reprodução eram as máquinas de fotocópia. Hoje em dia tal noção foi amplamente substituída por todos aqueles que trabalham em artes gráficas.
Já falei desta BD em diversas ocasiões. Trata-se de um trabalho de retorno ao total experimentalismo, que faz cruzar narrativa gráfica com interpretações abstractizantes a partir de uma canção. Para o caso também não é alheio de como a influência que o rock progressivo (e narrativamente conceptual) dos anos 70, ainda se fazia sentir com muita intensidade por finais dos anos 80.
Quando se trata de observar a minha abordagem na prancha de figuração abstracta, sente-se que eu trabalhava o original por si. No fundo, esta BD não é sequer para reproduzir, sendo a minha relação tão aberta e, de certa forma, repetitiva, que todo o trabalho envolvido é para se observar directamente do original.
No entanto, nascia uma tomada de consciência de questões narrativas pertinentes e uma clara ruptura com os códigos convencionais da banda desenhada, que me permitiram desenvolver ideias futuras que se aproximam mais da expressão que este género de BD tem assumido recentemente. Para o facto não é alheio o meu interesse pelo livro de Andrei Molotiu: Abstract Comics – The Anthology, editado pela Fantasgraphics, editora Norte Americana, que ainda não tive a oportunidade de conhecer directamente. O Pedro Moura tem uma entrada sobre este livro no seu blogue que pode ser vista aqui. Fico satisfeito por uma vertente da minha expressão em BD ter ecos mais concludentes em outros pontos do mundo, afastando uma certa solidão escondida que acompanhavam as minhas abordagens, envolvendo as formas abstractas.
Estas pranchas do Mensageiro foram, para mim, a raiz inicial da exploração de novas fronteiras para a narrativa gráfica, vulgo BD, que eu quero desenvolver No próximo post falarei do meu período “intermédio”, em que as noções abstractas tiveram uma aplicação pedagógica no ensino da BD e como desenvolvi essa expressão, a par com a narrativa naturalista.
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