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EVIDENCE

Apresentada no âmbito do Festival Belém Soundchek – um festival realizado em parceria com a Égide – Associação Portuguesa de Artes, EGEAC e Instituto de Cultura de Lisboa, este espaço expositivo estará patente no MAC/Centro Cultural de Belém até dia 19 de Setembro de 2024.

Evidence, na sua busca poética imersiva, é uma ode a um mundo sem fronteiras. As viagens físicas, sonoras e visuais do Sounwalk Collective entram num diálogo infinito com as trajectórias poéticas de Patti Smith para criar uma outra visão e linguagem. O espaço expositivo apresenta sons, filmes, imagens abstractas, objectos e arte encontrada nas suas viagens, conduzindo o visitante por uma grande instalação sensitiva que justapõe fotografias, textos e obras de arte originais de Patti Smith.

Entre 2017 e 2021, Stephan Crasneanscki e Patti Smith colaboraram na criação de Perfect Vision, um tríptico de álbuns inspirados na obra de três emblemáticos poetas franceses: Antonin Artaud, Arthur Rimbaud e René Daumal. Fulcral para este trabalho foi a necessidade que os poetas sentiram de viajar para países diferentes a fim de alcançar uma nova visão e perspectiva de si mesmos e da sua arte. Gravados, respectivamente na serra Tarahumara, no México, no planalto abissínio da Etiópia e no topo dos Himalaias, na Índia, os três discos alicerçam-se na ideia de que cada paisagem contém memórias adormecidas que são testemunho da passagem humana.

Produzidos em colaboração com Russel Elevado, Leonardo Heiblum, Nicolas Becker e Simone Merli, membros do Soundwalk Collective, cada um dos álbuns reconstitui os passos dos poetas, canalizando paisagens sonoras e musicais que são revisitadas pela voz encantatória de Patti Smith. A composição musical e sonora de Perfect Vision, estimulada por estas viagens metafísicas, é o ponto de partida para esta exposição site-specific e interdisciplinar, criada originalmente pelo Soundwalk Collective e Patti Smith para o Centro Pompidou, em Paris, e reformulado para o MAC/Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

 

 

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PINTURAS TIBETANAS

Mahasiddhas. Mosteiro de Kagyupa, século XVII.

Thangka ou “aquilo que se desenrola”, em tibetano clássico, são imagens budistas do Tibete, pintadas em algodão ou linho, representando uma divindade budista, um cenário ou uma mandala. As thangkas tradicionalmente permanecem conservadas sem moldura, ficando enroladas quando não são exibidas. A maioria destas pinturas é relativamente pequena, apresentando-se como um rolo orientado verticalmente, no entanto algumas podem ser extremamente grandes. Essas foram criadas para serem exibidas, por períodos breves, nas paredes externas de mosteiros como parte de festivais religiosos. A maioria das thangkas destinava-se à meditação pessoal ou à instrução de estudantes monásticos, dentro da linha do budismo Vajrayana – que se caracteriza pela inclusão da tradição espiritual Bön – religião não organizada de características shamanicas, anterior à difusão do budismo no Tibete.

Cenas da vida de Buda. Tibete Oriental, século XVII.

Geralmente, as thangkas apresentam composições muito elaboradas. Uma divindade central é frequentemente ladeada por outras figuras, sendo estas identificadas através de uma composição simétrica. Outro tema deste estilo de pintura são as mandalas, cuja apresentação cromática varia muito dentro de um padrão desenhado mais ou menos comum; para além destes temas também existem representações na forma de sequencias narrativas. Estas pinturas servem como ferramentas importantes de ensino que descrevem a vida de Buda, vários Lamas e linhagens influentes, além de divindades e bodisatvas. Um dos temas recorrentes é a «Roda da vida» – Bhavachakra – que é uma representação visual dos ensinamentos do Abidharma (Arte da Iluminação). Actualmente, as reproduções impressas de thangkas em tamanho poster são, geralmente, usadas para fins devocionais e decorativos. Muitas das pinturas thangkas faziam parte de séries, embora tenham sido separadas posteriormente.

Bhavachakra – Roda da vida. Pintura contemporânea.

Num breve resumo, as pinturas thangkas em tecido, provenientes do próprio Tibete, começaram a ser executadas no século XI. As composições típicas mostram uma figura central, ladeada por outras mais pequenas, com frequência inseridas em compartimentos delineados ou cercados por halos flamejantes; noutros casos também surgem sentados em pequenas nuvens. Por detrás dessas figuras vislumbra-se um fundo de paisagem que inclui uma vasta área de céu. A figura central pode ser uma divindade, um arhat ou um monge importante. Algumas das entidades representadas podem ser diferentes “aspectos” ou reencarnações umas das outras, de acordo com a teologia budista tibetana. As pinturas thangka incorporam muitos elementos da pintura Han chinesa, particularmente a partir do século XIV, alcançando esta característica o seu pináculo no século XVIII. Um dos aspectos desta influência foi a de trazer mais espaço e ênfase à paisagem que constitui os fundos. No entanto, de uma forma geral, o estilo de representação das figuras mantém a sua origem na tradição Indo-Nepalesa.

Deusa Lhamo e seus companheiros. Butão, mosteiro de Drigungpa, 1800.

Durante o reino de Trisong Duetsen, no século VIII, os mestres tibetanos refinaram as artes através de pesquisas e estudo de diferentes países e tradições. Todos os canônes da pintura thangka são maioritariamente baseados em estilos indianos. O desenho de figuras é baseado no estilo nepalês e os cenários de fundo são baseados no estilo chinês. Desta forma as pinturas thangka tornaram-se numa arte única e distinta. Apesar da pintura thangka ser realizada, originalmente, como um meio de ganhar mérito, tornou-se também, actualmente, comercial fora da comunidade tibetana.

Um abade Kagyupta. Tibete Oriental, 1750.

As thangkas foram pintadas em todas as áreas onde floresceu o budismo tibetano, incluindo a Mongólia, Ladakh, Sikkim e partes dos Himalaias indianos – em Arunachal Pradesh, Dharamshala e no distrito de Lahaul e Spiti no Himachal Pradesh. Este estilo de pintura também é praticada em algumas zonas da Russia (Kalmykia, Buryatia e Tuva), além do Noroeste da China. Os tibetanos têm pudor em vender thangkas ou outros artefactos religiosos a uma larga escala, dessa forma outras origens monopolizaram o comércio destas imagens, sobretudo destinadas a budistas e entusiastas de arte com origem no Ocidente.

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PORQUÊ IR À ÍNDIA?

Transcrevemos aqui um pequeno texto de Diana Chiu Baptista, com quem tive o prazer de viajar para a Índia através da Macro Viagens, por apontar características essenciais que façam conhecer o mundo e não somente a aparência do mundo (sejam elas em imagens ou “ondas” sociais). Não nos revemos em todos os aspectos, mas a súmula mostra-se mais importante do que os detalhes. Esperamos que possam usufruir, sem preconceitos.

«O que me move a viajar para a Índia? A Dulce desafiou-me a falar sobre este tema. E isso fez-me refletir. O verbo “ir” sempre fez parte da minha personalidade. Mas não é só isso. É isso e muito mais. A minha primeira vinda à Índia, não foi fácil: foi um murro no estômago. Mas esse murro transformou-se em borboletas na barriga. Não é fácil explicar, é mais fácil vivenciar a Índia…

A Índia é crua, é mundana e espiritual, é a vida como ela é, a céu aberto. Está tudo aqui, é tudo visível, o bom e o mau, não está nada camuflado.

A Índia mexe com as crenças, com a nossa visão da realidade. Abre-nos portas interiores que nem sabíamos que existiam, quanto mais que estavam fechadas.

A Índia é o epicentro espiritual do mundo, onde para além de lugares sagrados, encontramos sabedoria, linhagens, professores vivos.

A Índia é feita de gente que tem uma mente estável e flexível. Isso é visível no dia-a-dia. Basta descermos do nosso pedestal.

A Índia às vezes pode doer, mas é sempre bom visitar lugares que nos assustam, colocarmo-nos voluntariamente em situações desconfortáveis. A procura incessante de conforto de que padecemos no ocidente, conduz-nos invariavelmente ao sofrimento (irónico, não?).

A Índia é o mundo ao contrário. E vira o nosso mundo ao contrário. Pode motivar-nos a praticar, a estudar, a sermos mais éticos e compassivos, a procurar desiludir-nos com o samsara, a querer abandonar este ciclo incessante de renascimentos.

A Índia é uma vaca que entra numa loja, é o trânsito que parece que dança, são as buzinas a avisar “vou passar”, é alguém que se chega para a berma para dar espaço, é uma senhora de 70 anos que veste rosa brilhante com a barriga enrugada e grande orgulhosamente à mostra, é um sorriso aberto de um desconhecido, é um convite, são as famílias que vivem juntas, é um banco de comboio para cinco, é tanto que é difícil enumerar.

Se só pudesse vir a um sítio, vinha sempre à Índia. Aliás, deveria ser obrigatório todos virem à Índia uma vez na vida. Não ao Taj Mahal, não a Goa, não a Rishikesh, não a Jaipur (desculpem). À Índia. À Índia profunda que nos tira o tapete do chão e o substitui por um tapete voador.»

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INDIA – WHO’S TO KNOW

Remembering some moments of the voyage to the most relevant places of the Buda’s path, in India, which took place in October 2022, and was happily shared with an heterogenic and dedicated sangha.

All around the road we saw motorcycle princesses going on their way.

-What’s your name?

-Dennis.

-Where you come from?

-Portugal, southern Europe…

-There are many things to see here!

-We going north, to meet Buda places.

We saw sacred cows at Sanjay colony, a shanty town build by the population in the surroundings of New Delhi.

-My name is Naresh, the guide that leads you into this place.

-Can we take pictures?

-No, here is not permitted.

-Why not?

-This is not a tourist place, we must respect the dwellers.

(The streets were full of people and the smell was overwhelming).

Very often boys walk together with one hand leaning on the shoulder of the other. Or even holding hands can be a sign of their friendship.

-Do you have Camel cigarettes?

-No, only Marlboro…

-Let’s try another place.

-Never mind, I will try tomorrow morning.

-Give me your hand, so you don’t get lost.

(The streets in Varanasi were chaotic, with too many traffic and people moving around).

It was hot and the Ashoka Pilar stand with a smiling lion on is top. Here was accepted the inclusion of nuns in the Buda’s sangha, a poor region as Sanjay that we saw in Delhi, where the cast system is not relevant.

-This is the World Peace Stupa.

-Why it as also statues of the smiling lion?

-Because the Ashoka reign was the golden age of budism in India.

-But this is a Japanese stupa, right?

-Yes, it was built in the sixties, as a memorial of Japan atomic bombing.

(We look at the standing white pagoda rising the intention that similar wars won’t ever happen again in the world).

We were travelling further north when I felt involved by the sound of a Raga played by Shankar in is double violin.

It look like it was coming from the trees and mountains, as well from the heated mist elevating from the ground. And it seems that the pace of the bus carrying us was a tabla performing our hearts throughout an endless floating road.

https://www.youtube.com/watch?v=xrGJdoTNbSs

Above New Dehli’s Central Park several eagles were flying in large circles. We had already seen a considerable amount of monkeys in the garden of the hotel and its surroundings.

-Have you just seen it, there’s a lot of small squirrels in the trees.

-Last night I saw huge bats flying low, near the market.

-There are many street dogs sleeping on the ground or just wandering quietly.

-Just like the goats in the country villages.

-There are not only cows rooming everywhere.

(At Lodi Park a great number of geese stroll together near the lake in a loud array of acute sound).

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Boas festas. Subimos a única Lua. Esta é recortada em papel, um aparo preso a um fio de prumo de palavras que se acertam. Pulsar de recriação recebendo os gestos atentos de leitores improváveis.

Os olhos tocam as folhas temperadas pelas cores e os livros imaginados tomam a sua forma para habitar a casa dos outros.

Tempo sem pregas, sentir o caminho no canto possível de um novo ano: suspensa manhã sobreposta, a respiração nas voltas listradas de uma casca de caracol.

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THESE TIMES…

No passado dia 26 de Junho morreu o trompetista e compositor Jon Hassell, aos 84 anos.

Sopro longo, música do quarto mundo que assim apresentou:

«Uma espécie de linha filosófica, uma postura criativa, dirigida para as condições criadas pela intersecção da tecnologia com a música e cultura indígenas.
O objectivo subjacente é o de providenciar uma espécie de obstetrícia para a fusão inevitável de culturas e, simultaneamente, apresentar um antídoto para a “monocultura” global, criada pela colonização dos media.
O pressuposto é o de que cada cultura e música dos povos indígenas – resultado da sua resposta única ao seu meio ambiente original – funciona da mesma forma que um “elemento” na tabela periodica da química: como blocos puros de construção dos quais todos os outros compostos “culturais” irão emergir.
Por outras palavras, essas culturas são o nosso “vocabulário” na tentativa de pensar em formas para responder às questões sobre o espaço da nova geografia, criada pela sociedade global dos media, devendo por isso ser respeitadas pela importância que têm para a nossa sobrevivência.»

Do albúm The Surgeon of the Nightsky Restores Dead Things by the Power of Sound (1992) o tema Hamburg: https://www.youtube.com/watch?v=qmxqeJOJ7FQ

Desenho © Diniz Conefrey

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Uma série de ilustrações que sugerem uma síntese do que poderão ser as heranças culturais (anteriores ao antropocénico) que se salientam dos seis continentes terrestres. Quanto à modernidade, ela apenas é contemplada através da Antártida, já que a sua colonização ocorre num período mais recente. As escolhas geográficas não tiveram em conta a possibilidade de subdivisões, evitando assim desdobramentos, possíveis mas que aqui não foram contemplados. Também a tónica saliente para cada uma destas proposições é discutível, como seria natural, dependendo de uma apreciação que tenta colocar o foco numa identidade humana pré-tecnológica.

EUROPA – Luta greco-romana

Uma recriação vinda da antiguidade e, ao que parece, também os soldados de Napoleão praticavam esta modalidade olímpica; já sem estarem nus, barrados de azeite e cobertos de areia. Um wrestling, talvez um “pas de deux”, para imobilizar os ombros do adversário e aceder à sua pronta rendição.

ÁSIA – Meditação

Segundo uma perspectiva terapêutica, a exposição de Quatro Nobres Verdades: 1- Reconhecimento de que todas as experiências condicionadas implicam apego e aversão, causa do sofrimento. 2 – A causa consiste no desconhecimento da natureza da mente e do seu entorno, que leva à separação e dualidade entre o suposto eu e o mundo. 3 – O remédio consiste no nirvana, ou cessação do sofrimento por abolição das suas causas. 4 – A aplicação consiste numa ética em não prejudicar nenhum ser senciente, meditação e sabedoria no conhecimento directo da vacuidade e sacralidade de todos os fenómenos da vida.

ÁFRICA – Ritmo e tradição oral

Cores vivas e grandes contrastes reluzindo os corpos em movimento de músicas, nostálgicas ou felizes, que do continente saíram para o resto do mundo. Um sentir enraizado no coração do povo, nas mentes sem fundador a crença de um ser supremo apenas vivendo do calor que a terra abraçou.

AMÉRICA – Reciprocidade e ecologia

Das sociedades simples ás mais complexas, o valor dos excedentes como forma de manutenção dos equilíbrios sociais e um diálogo com a natureza antes de qualquer outro pensamento. Uma postura que se mantém numa vivência integra, da memória persistindo aos apelos da modernidade.

OCEANIA – Terra dos sonhos e navegação

Ao escutarem as mãos ouviram da montanha dizer um tempo maior que sonha dentro do breve quotidiano: tatuagens ferozes. Navegadores do maior oceano da terra, apenas usando o mapa das estrelas, diagramas de madeira e fibra de coco, chegaram a todas as ilhas, sabendo da suavidade ao deslizar pelas ondas nas enseadas limpas.

ANTÁRTIDA

Das roupagens brancas de um clima extremado onde pulsam anémonas, estrelas-do-mar. Aqui sentem os pinguins, as baleias e as focas tocadas pelo frio intenso; amplo vôo dos albatrozes a circundar o litoral. Ao contrário do que dizem não é um continente desabitado, apenas não tem nenhum governo, não pertence a nenhum país. Continente politicamente neutro, apenas a liberdade de uma comunidade científica, impondo os ventos glaciares uma estreita cooperação internacional.

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DA ESCRITA (FRAGMENTOS) 2

Segunda parte do texto, publicado na revista el poeta y su trabajo (Inverno de 2009), da autoria de Olvido García Valdés. Poeta, ensaísta e tradutora espanhola que nasceu em Santianes de Pravia (Asturias) em 1950.

Arshile Gorky. Good Hope Road II. Pastoral, 1945.

O poema, como paisagem, é um lugar onde nos é permitido falar com os mortos; também aí nos é permitido sentir a dor. Ambos se enredam de duração, o tempo ensimesmado na contemplação da coisa perdida. Assim caracterizava Benjamim em luto. (No que consiste a emoção, mostra-nos, por vezes, a falta de emoção. Quando ao ouvir ou ler uma frase sentimos que lhe falta emoção, percebemos que essa ausência tem que ver com algo relacionado com o tempo; a falta de emoção segue entrelaçada por alguma falha, ou claridade excessiva, no sentimento do tempo; como se a morte não tivesse impresso a sua marca.)

O poema não surge da mão da vontade ou da consciência, toma o seu tempo, espera, aparece ou não aparece, flui através da periferia, a periferia conforma aquilo que é central. Nessa fase, o trabalho é subterrâneo, algo de inconsciente ou pré-consciente coalhando, ocurrendo não quando se quer mas quando ele quer. Por exemplo, durante muito tempo soube que para a caça nocturna faltava-me um poema que respondesse ao que eu chamava de pastoral (Pastoral era também o título de um quadro de Arshile Gorky); esse poema tinha que ver com uma certa memória da minha infância, porém não soube escrevêlo até que se coagolou na forma de um sonho.

Numa entrevista, Garry Snyder referia-se à meditação com estas palavras: “De facto, como sabe, qualquer um que tenha praticado suficientemente a meditação, aquilo a que se aponta não é nunca o que se alcança. Aquilo a que se aponta não é, curiosamente, o que se obtém; a vontade consciente não pode alcançá-lo. Há que praticar uma espécie de distracção cuidadosa, no entanto relachada, que permite ao incosciente fazer o seu próprio trabalho de ascensão e manifestação. Porém, no momento em que alguém, alerta, se dispõe a apressálo, escapa-se, deslizando para o fundo. É algo muito semelhante ao que ocorre na caça estática: deténs-te nalgum lugar do bosque e permaneces imóvel até que as coisas começam a viver, começam a aparecer esquilos, pardais e coelhos que estavam aí desde o princípio, mas que mergulham nalgum lugar quando os observamos de perto. Também a meditação é assim”. Como a poesia.

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CAMINHOS DO INTERIOR

 

Festa de Santo Estêvão em Grijó de Parada. Bragança, 26 e 27 de Dezembro. Fotografia do Catálogo «Máscara Ibérica».

Umas breves linhas para dar conta da nossa passagem pela cidade de Bragança, que vale a pena conhecer. Cidade do interior já perto da fronteira, naturalmente pequena na sua dimensão física mas apresentando vários aliciantes que poderão ser invejáveis a outras localidades no país. A paisagem transmontana, só por si, seria suficiente para voltar a sentir uma identidade profunda, onde a intensidade das neblinas e nuvens carregadas tocam a densidade dos cumes, ao longo de largo espaço de campo sem a presença de vida humana. Longe, portanto, das grandes zonas urbanas e seus universos virtuais. No café Princípe Negro pode-se fumar e a amabilidade do atendimento providenciou um almoço que, para vegetarianos, é sempre complicado fora da faixa mais cosmopolita desta nossa nacionalidade. As pessoas do interior não têm uma simpatia estudada, são elas próprias nas suas características mais genuínas o que, aparentemente, poderá trazer algum desconforto que não é senão um reconhecimento de identidade. Um frio de rachar que, de noite, atravessa a roupa e os próprios ossos, mas esta é a melhor estação para viajar. As cores do Outono lembram como o lazer e a melancolia podem estar unidas no sopro que estas terras respiram.

Zadok Ben-David. Peopel I saw but never met 2015/2019 (detalhe da instalação no prospecto do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais).

Da seiva silvestre que a pintora Graça Morais catalisa ao devolver o sopro ao olhar dos visitantes do Centro de Arte Contemporânea, com o seu nome, instalado num edifício exemplar; tanto na sua arquitectura, preservação e espaço. Pinturas e desenhos fixando de modo penetrante a alma destes lugares ou as cenografias pintadas para peças teatrais, além do seu trabalho mais recente, Metamorfoses da Humanidade. Tivemos ainda oportunidade de visitar a exposição de Zadok Ben-David, People I saw but never met. Imagine-se pessoas de todo o mundo em esculturas que se formam através de linhas de desenho, «como se os traços se automatizassem da superfície ou tivessem saltado da folha de papel para o espaço arquitectónico.» Ao lado deste museu encontra-se o Centro de Fotografia Georges Dussaud (Brou, França, 1934) que apresenta inúmeras fotografias que este francês captou nesta região que conheceria, por mero acaso, na década de 1980. No ponto mais elevado da cidade encontra-se o castelo, incluindo várias habitações e alojamentos locais além do Museu Ibérico da Máscara e do Traje que remete para os Caretos. Uma sobreposição de tradições pagãs e cristãs celebrando vários eventos desde o Outono até à Páscoa ou, no caso de localidades espanholas, durante o mês de Agosto, no Verão. De Bragança a Zamorra, uma tradição Ibérica, sobretudo no período natalício, dia de Reis e Carnaval.  Última nota para o deslumbrante passeio pedonal que, do castelo, leva a percorrer o Rio Fervença, passando pelo Museu da Ciência antes de voltarmos a entrar na cidade pelo lado das sombras silenciosas e do marulhar das águas, descendo cascatas de pura canção.

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A chancela Quarto de Jade tem uma nova publicação em co-edição com a Mundo Fantasma e o Atelier 3/3. Trata-se de uma brochura de 36 páginas, impressa em risografia no Porto, com encadernação manual, numa tiragem de 93 exemplares numerados. A capa é impressa a azul, a página de rosto a burgundy e o miolo a preto e branco com ilustrações de Diniz Conefrey e texto com a colaboração de Maria João Worm.

Cardos Maduros expõe uma reflexão sem tempo. Uma viagem dentro de viagens, exposta em ilustrações. Momentos vividos entre a experiência pessoal e o universo literário de Juan Rulfo. Ecoando nessa multiplicidade, a constatação de vivências sobrepostas, atravessando a narrativa para se encontrarem numa elegia onde os afectos emergem entre a crueza de histórias perdidas.

Disponível na loja do site: http://www.quartodejade.com/shop_books.php

 

 

 

 

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