Disponível nas livrarias o novo livro de poesia de Diniz Conefrey, Um Fio Atravessa a Noite. No espanto, as mãos das vozes que transintam entre amplitudes de vida, transformando a respiração por dentro. E transforma em quê? A pergunta está deslocada, transforma-se porquê? Porque de súbito renasce a vontade do olhar. Sem aquela luz fugaz dos espectáculos, apenas uma estação inscrita que sente e que se altera pela combustão das cicatrizes de tudo o que, por intocável, aspira à libertação no veio cortante das palavras. Editado pela Companhia das Ilhas, este azulcobalto de 84 páginas inclui vários poemas por entre diversas inflorescências. Nesta página, apenas o verso final de Centelha do Limbo:
(…)
Mato grosso ondulante, corpos nus;
sentado Ailton pondera palavras
como fruta macia de silabas abertas
por sementes, rio doce sob o vale de aço,
mãos dadas com quem se quer longe
e perto de tudo que fala enrolado
esquinas de saber ou em guarda parada –
copo do corpo tatuagem do espaço
bolsa de tarja larga, fundo caíram os dedos
descendo sozinhos no sonho d’avó
pelo fundo do rio, da espera, tudo recomeçou –
acabou, acabando em nós de folhas virgens
dilaceradas por febres de vozes mansas,
jacarandás chovendo violetas soando –
soando de retorno ao fundo, o mesmo fundo
saindo, uma vez mais, por entre lavores
dos olhos talhados de gretas tremendo
no frio de um rosto suave
sorrindo nos gestos
brandos
que a esperteza calou.